A Girl

"The tree has entered my hands,
The sap has ascended my arms,
The tree has grown in my breast -
Downward,
The branches grow out of me, like arms.

Tree you are,
Moss you are,
You are violets with wind above them.
A child - so high - you are,
And all this is folly to the world."
(Ezra Pound)

SciFi and Fantasy Art Tree Girl by Sarah Harmon
(Sarah Harmon)

o vermelho e o verde

" - De que cor é o vermelho?
  - É verde.

  - Quem é o teu pai?
  - É o revisor do comboio para a lua.

  - O que é a loucura?
  - É um braço solitário sorrindo para os meninos.

  - Quem é Deus?
  - É um vendedor de gravatas.
  - Como é a cara dele?
  - É bicuda, com uma maçaneta na ponta."


(Mário Cesariny)




(Dali Atomicus - Philippe Halsman)
(Dali Atomicus - Philippe Halsman)



vil

"Nunca conheci quem tivesse levado porrada. 
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. 

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, 

Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, 
Indesculpavelmente sujo, 
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, 
Eu que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, 
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, 
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, 
Que tenho sofrido enxovalhos e calado, 
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; 
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel, 
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, 
Eu que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, 
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado, 
Para fora da possiblidade do soco; 
Eu que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, 
Eu que verifico que não tenho par nisto neste mundo. 

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo, 

Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu um enxovalho, 
Nunca foi senão princípe - todos eles princípes - na vida... 

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana, 

Quem confessasse não um pecado, mas uma infâmia; 
Quem contasse, não uma violência, mas uma cobardia! 
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. 
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? 
Ó príncipes, meus irmãos, 

Arre, estou farto de semideuses! 

Onde há gente no mundo? 

Então só eu que é vil e erróneo nesta terra? 


Poderão as mulheres não os terem amado, 

Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca! 
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, 
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? 
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil, 
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza."

(Álvaro de Campos)

distância

"No. No me conocéis. No me habéis visto.
Sólo mi sombra entra
a vuestro mundo. Más allá estoy yo,
blanco de eternidad frente a la luz eterna.
Como en sueños me sinto vivir a mis espaldas:
en donde el mundo acaba mi pensamiento empieza.
Amáis y odiáis mi sombra;
pero es sólo mi sombra... - qué tristeza
y qué placer...! -
Y yo estoy solo, nuevo,
como el agua que espera
que, a un mandato del mundo, le reclame la fuente
en dolores de cauce alivio de riberas.
No. No me conocéis. No me habéis visto.
Sólo es mia la luz que me proyecta!
Yo estoy en la distancia
donde está mi grandeza,
pues, estando muy lejos,
parezco estar muy cerca.
Estoy en ese punto
donde muere el sonido y el silencio no llega.
Donde cesa la imagen su trayecto visible
y, en ausencia suprema,
se desciñe su atuendo de miradas y siente
su libre desnudez infinita y eterna"
(Tomás Losa Carretero)

menos um

Defeito
Efeito
Feito

Eito

Fora

Morreste-me

"Anda cá ver, rapaz. E mostravas-me. Pai. Deixaste-te ficar em tudo. Sobrepostos na mágoa indiferente deste mundo que finge continuar, os teus movimentos, o eclipse dos teus gestos. E tudo isto é agora pouco para te conter. Agora, és o rio e as margens e a nascente; és o dia, e a tarde dentro do dia, e o sol dentro da tarde; és o mundo todo por seres a sua pele. Pai. Nunca envelheceste, e eu queria ver-te velho, velhinho aqui no nosso quintal, a regar as árvores, a regar as flores. Sinto tanta falta das tuas palavras. Orienta-te, rapaz. Sim. Eu oriento-me, pai. E fico. Estou. O entardecer, em vagas de luz, espraia-se na terra que te acolheu e conserva. Chora chove brilho alvura sobre mim. E oiço o eco da tua voz, da tua voz que nunca mais poderei
ouvir." (José Luís Peixoto).


(Eugene Green - Les Signes)