Gato (II)

Desacatos diários
Somados uns atrás dos outros
Resultam em gatos atados por fios de seda negra
Pelas donas de casa desesperadas
Depois de os empoleirarem sistematicamente
Sobre o aparador, as mulheres
Incendeiam-nos e dançam
O seu ritual suicida

Gato

"De que profunda estância regressava,
orgulhoso da indomável vontade de vadiagem
pelas redes nocturnas do equilíbrio ?
Que última notícia
de vazios impraticáveis sucessos
trazia na ilegível memória ?

Oblíquo, desobrigado gato negro
que nunca se afez à abonação
embora estivesse sempre de volta
na procura dos olhos que prescrutavam nos seus
o relato cruel da noite, um arrepio
de cavadas esquivas paisagens.

Arremete o gato um son(h)o
de excitante adiada paixão,
a cega trajectória do corpo na proeza
de céleres telhados e terraços
abertos nos desassombros de um amor
que só se extingue c'o a morte."

(XOSÉ MARÍA ÁLVAREZ CÁCCAMO)

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(Foto: Rui Effe)


Circularidade (s)

As árvores padecem cada vez mais de uma esquizofrenia profunda
Provocada pelas intervenções emocionais dos seus observadores
Que nunca aprenderam a passar despercebidos.
Seriam os cães?
Os cães alérgicos a eles mesmos?
Como se fossem um amontoado de pólen incompatível
Que se acossam interminavelmente pelas ruas.
Que por vezes intercedem sempre a mesma mulher vinda de algum sítio
De intencionalmente ir contra as paredes dos prédios
Sem qualquer sentimento de culpa ou razão do desconhecido
Só porque um dia tinha lido que esses impactos desenvolviam a sua autonomia.