vives pela morte
vives na morte
vives para a morte
vives sobre a morte
vives com a morte
Meu querido Porto vivo
(noutro quadrante lógico e\ou emotivo
substituir as palavras vives pela morres
e morte pela vida)

- Lembras-te daquela noite em Julho
- Qual
- Quando andávamos na escola
- Na escola
- Sim, e fazíamos teatro
- Tivemos muitas
- Pois foram, e as que ficaram esquecidas
- Eu lembro-me de algumas, conta
- Estava a chover e ficámos à espera que te viessem buscar
- No portão
- Sim no portão, tu de guarda-chuva e eu no carro com a M.
- A ouvirmos a Antena 2
- Deprimente e belo
- Queria que te fosses embora e não foste
- Claro, foi uma oportunidade única e memorável
- Pelo menos pela escrita
Podia escrever-te
Sem usar-te
Uma carta de desejo
Sem beijar-te
Uma carta de amor
Sem pensar-te
Uma carta de dedicação
Sem oferecer-me
Uma carta de fidelidade
Sem despir-me
Uma carta de despedida
Sem desligar-me
Uma carta de suicídio
Sem usar-me
Podia
Sentir-me dono de mim
(En)Cantos de poeira remexida
Começam a habitar a folha de linhas em frente
Perspicazes emergem pela caneta – porque o vento
Decidiu acordar inspirado – ou porque o sol
Envergonhado sorriu de leve – só ainda
Não descobri se para mim
Ou para aquela que por mim escreve.
Começo a repetir o que diz e
Sem imitar (re)crio os seus mundos rectos
De fantasia e sonho
Que sonho como meus.
Acordado ato, mais uma vez,
Memórias decalcadas, agora a violeta (des)contente
E o mar entra pela janela
Imenso, disperso, partido
Desconexo, irreverente, insistente,
Envolvente, quente e sorrio
Como se de uma reacção alérgica se trata-se.
![]() | Odette Toulemonde — Lições de Felicidade Título original: Odette Toulemonde |