Escrevo-te

Ardor inquieto ao som do relógio metrónomo que uma noite, quente de ansiedade, entra pela janela, perpassando as quadrículas rugosas do vidro esquecido, e invade os meus ossos; além de não me surpreender, sustem-se na respiração como uma harmonia viciada enquanto os músculos se distendem ao norte, ao centro e ao sul, e as sinapses ficam cada vez mais insistentes nas suas necessidades e respostas ao mesmo tempo soporíferas e desafiadoras.
Esta sensação instigadora bem-vinda humedeceu a pele coberta de penas descobertas e - como um símile - os lençóis no dia seguinte desejado espraiaram-se com olhos fundos no seu pingar oscilante.


O silêncio, 1911, de Odilon Redon

2 comentários:

o rapaz da bicicleta disse...

o calor tem destas coisas...

rebelonya disse...

se escreves, o que fazes ao silêncio?