“A catástrofe de amor está talvez próxima daquilo a que se chamou, no campo psicológico, uma situação extrema, que é uma situação vivida pelo sujeito como devendo irremediavelmente destruí-lo; a imagem foi retirada do que se passou em Dachau. Não será indecente comparar a situação de um sujeito que sofre de amor com a de um preso no campo de concentração de Dachau? Será possível encontrar-se uma das injúrias mais inimagináveis da História num incidente fútil, infantil, sofisticado, obscuro, ocorrido com um sujeito confortável que é apenas vítima do seu Imaginário? Estas duas situações têm, no entanto, isto em comum: são, literalmente, pânicos; são situações sem continuação, sem regresso – projectei-me no outro com uma força tal que, com a sua falta, já não posso deter-me, recuperar-me: estou perdido para sempre.”
[Barthes, R. (2001:65) Fragmentos de um discurso amoroso]
“Purificados também é uma reflexão sobre a minha própria vida. Sem que seja no entanto autobiográfico. Numa passagem de Fragmentos de um discurso amoroso, Roland Barthes diz que a situação de um apaixonado infeliz é comparável à de um prisioneiro de Dachau. Comecei por ficar muito indignada com esta comparação, parecia-me impossível que os sofrimentos de amor pudessem ser tão terríveis quanto os de um campo de concentração. Mas depois de muito reflectir, compreendi melhor o que Roland Barthes quer dizer. Ele fala da perda de si. Quando alguém se perde de si próprio, o que é que ainda lhe resta? Desembocamos numa ausência total de saída, numa espécie de loucura.”
[Kane, S. (Fev. 2003:71) OutreScène: la revue du Théâtre National de Strasbourg]
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2 comentários:
ele tem mais teorias, mas cito esta:
"«Eu é um outro»: a loucura é uma experiência de despersonalização. Para mim, sujeito apaixonado, é exactamente o contrário: é o tornar-me um sujeito, sem poder deixar de o ser, que me torna louco. (...)
Sou indefectivelmente eu próprio e é nisso que sou louco: sou louco porque consisto."
Roland Barthes, 2006:188
pela tua graça minha amiga:
"Adorável é o traço fútil de uma fadiga, que é a fadiga da linguagem. De palavra em palavra afadigo-me em experimentar diversamente o que é próprio da minha Imagem, impropriamente o que é próprio do meu desejo: viagem no termo da qual a minha filosofia última não pode deixar de reconhecer - e de praticar - a tautologia. É adorável o que é adorável. Ou ainda: adoro-te porque és adorável, amo-te porque te amo." (do mesmo:26)
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