Sem esquecer

Enquanto dormias as cores sem artifício do fogo
Emergiram do rio e dançaram em frente ao Porto
Depois vestiram-no com(o) um choro alegre
Eu crescia
Enquanto dormia à procura do paraíso-queimado
As entoações tornaram-se ambíguas, quer das rebentações,
Quer dos falatórios a norte
Tu viravas e re-viravas os olhos
Eu pensei que seria clara a história e sobre os teus cabelos brancos
Os balões brilhavam e as sombras moviam-se
Entre o silêncio azul e a multidão
O enamoramento adormeceu entre duas florestas
No teu sonho o texto caminhava pelas paredes da sala e
Durante a escuridão tocaram-se os corpos frescos
Com a menina à janela que tinha piscado o olho
De camisa entreaberta sobre um escudo desarmado
Dancei ao som do coração de uma espécie de infância
No meu sonho, as bolas de sabão orgulhosas ascenderam
As fitas de S. João e os sorrisos dos amigos à varanda
O tempo abriu-se no espaço para reflectir cada passo-objecto teu
Os teus olhos sempre foram mais estranhos
O reflexo na esfera de protecção do pai, numa viagem em queda, não passou do sono
Enquanto vivemos-morremos
As gaivotas deitaram-se sobre a cidade, paramos com essa merda das marteladas mal cheirosas ___________ ri-te
O amanhecer cresce, continuamos a dormir, o sol denuncia o sangue na terra e a íris identifica-o ainda nas faces expectantes do toque do telefone
E volta o silêncio sempre voador entre toda a população
Enfim, deitamo-nos.

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